Tuesday, August 10, 2004

Um olhar

O eléctrico faz uma paragem no Largo da Graça, mas há quem continue viagem pela Rua da Voz do Operário. É uma das ruas desta Cidade que podemos senti-la como nossa sem nunca lá ter vivido, pois as memórias de outros tempos fazem-se recordar pelas fachadas de cada edifício. Enobrecida por um frondoso conjunto de árvores estrategicamente alinhado à esquerda ao fundo da rua, e refrescada pelo rio como pano de fundo, deixa a sensação que só podia ser assim e nada podia ficar em outro lugar.
Será apenas um olhar ...
Há uns largos meses encontrei um poeta português que me falou do seu segundo livro. Passado todo este tempo, fica uma certeza: É tão bom olhar com intensidade tudo aquilo que nos cerca.
Obrigada!

UM BARCO NO RIO

nas teias e nos telhados da cidade, os dedos
pressentem as margens do verão.
rapidamente chegam os barcos longínquos
com grandes bandeiras ao centro. ouviste há muito tempo
o romper do rio no íntimo das folhas verdes
que se despediam do teu corpo sob a forma do amor rápido
feito nos telhados da cidade.
será inútil construir a um outro corpo para aceitar
novos demónios, antigos ritos.

(António Carlos Cortez)



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