Thursday, June 03, 2004

Um refúgio mágico

Ao meu avô G

Sou “alfacinha de gema”. Diga-se, em abono da verdade, não ser fácil explicar o sentido literal deste termo, mas isso deixo ao cuidado dos mais curiosos.
Pode ser ainda mais complicado, quando se nasce na Mouraria. De facto, ser uma “moura alfacinha de gema”, confesso, é místico!
Talvez por isso, hoje inicio um giro por diversos pontos da minha Lisboa.
Caminho até ao Teatro Taborda situado na Rua Costa do Castelo. Decido entrar. Lá dentro, desço as escadas até ao piso com ligação ao terraço. O sol convida-me a ir até lá fora. Há muitas cadeiras e pouca gente. Fico sentada. Respiro fundo. Ali está: Lisboa, vestida de cor e de feitiço. Reencontro, mais uma vez, um dos meus refúgios mágicos.
A esta “receita” pode juntar-se q.b. de muita coisa...
O meu ingrediente não é picante, somente uma pitada dos “Sonetos de Luís de Camões”, escolhidos por Eugénio de Andrade. Fica um “cheirinho”:


Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o Mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E, em mim, converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto,
Que não se muda já como soía.




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