Este post sobre o
filme 2046 estava quase condenado ao esquecimento não fora uma tarde destas ter ido visitar um casal especial que me deu o mote.
Numa sala cheia de memórias de outros tempos com retratos a aquartelar rostos e muitas verdades, saltou-me aos olhos um quadro imenso fixado numa das paredes.
Confesso que já tinha sido avisada sobre a existência deste surpreendente mapa em que cada círculo desenhado é a outra face da moeda de uma vida de labuta diária conquistada num território imenso que é Angola. Hoje este país é recordado à distância mas outrora foi intensamente vivido paredes meias com gentes de África. Devido ao ofício de operador de cinema o homem da casa viu as portas abertas para os lugares mais recônditos do solo angolano, cuja lembrança não quis ver atraiçoada ao regista-los num simples mapa em círculos .
As muitas centenas de círculos que dão alma àquele pedaço de papel, fizeram-me quase perder a respiração de tanta emoção contagiada pela imagem dos milhares de quilómetros calcorreados e de tantos encontros e desencontros perfilhados numa só pessoa. Nessa mesma tarde atrevi-me a congeminar como seria o mapa geográfico do meu périplo de vida.
O roteiro de uma permanente viagem entre passado e futuro é a essência da trama cinéfila realizada por
Wong Kar-wai, em 2046. Este filme consegue convencer-nos que é irrepetível e indissociável a marca de cada “círculo” na cartografia humana.
Será 2046 apenas um número ou será também um círculo?
Vão ver o filme e terão a resposta...