Thursday, October 14, 2010

Carta aberta ao Director do jornal DN:"O mineiro infiel, a bebé Esperanza e a nega a Morales"


Fotografia



Exmo. Senhor Director do DN

Como leitora assídua do vosso jornal, cumpre-me manifestar o meu veemente desacordo quanto ao ângulo da abordagem da notícia: “O mineiro infiel, a bebé Esperanza e a nega a Morales”.

Transcreve-se o título e primeiro parágrafo do artigo visado:

«O mineiro infiel, a bebé Esperanza e a nega a Morales

Yonni Barrios foi o 21.º mineiro a ser resgatado da mina de San José e um dos homens de quem mais se falou nas últimas semanas. Tudo devido a um triângulo amoroso. Ontem, quando chegou à superfície, quem estava à sua espera era... a amante (…)».


O resgate dos 33 mineiros no Chile foi acompanhado, pela televisão, no mundo inteiro. Quem acompanhou esta missão, em directo, assistiu a emoções à ” flor da pele” dos familiares e entes queridos dos mineiros.

Esse momento seria naturalmente privado, repito privado, das suas vidas, não fosse a dimensão mediática e histórica desta missão de resgate, dado o carácter perigoso desta operação e o conjunto dos meios humanos chilenos e tecnológicos envolvidos.

O mundo esteve de olhos postos no Chile, durante cerca de 22 horas ininterruptas: desde a descida da cápsula, pela primeira vez, até ao regresso à superfície do 33º mineiro - o “capitão do navio” a abandonar o local em último lugar.

Neste enquadramento, o DN ao refernciar como título ”O mineiro infiel”, deu primazia a um aspecto moral da vida pessoal do mineiro, em detrimento do principal: a coragem e resistência desse mineiro!

Ora, o DN é um órgão noticioso, pelo que deve aquilatar a natureza da informação a prestar ao cidadão. Se fizesse, algum trabalho de casa (consultar os media), sabia que a situação extraconjugal tem um contexto próprio, o que omitiu completamente na notícia divulgada.

Optou, assim, por embrulhar este acontecimento numa abordagem telenovelística de América latina: a esposa e a outra, a amante.

A mesquinhez desta redacção vai ao pormenor: “quem estava à sua espera era... a amante”. Este compasso de espera literário, não é conciliável com a objectividade da notícia, porque ao jornalista não compete induzir o leitor a eventuais hipóteses, só lhe incumbe informar.

Aliás, de acordo com a informação nos media chilenos, o casal estava separado há alguns anos, e o mineiro vivia actualmente com Susana Valenzuela - a mulher que estava à espera dele!

Como leitora, entendo, que o jornalismo faz-se com notícia séria e não com informação romanceada para vender jornais.

Por último, atrevo-me a dizer: o primeiro jornalista que atire a primeira pedra!

Com os meus melhores cumprimentos,

Cristina Garcia

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